José Telmo

Dilema das Redes Sociais: documentário comentado

Redes sociais dominam e controlam os usuários? Documentário da Netflix procura colocar uma luz nesta discussão.

Fascínio, dependência, oportunidade, controle e manipulação? Estas são algumas das abordagens que são analisadas no documentário lançado pela Netflix: “O Dilema das Redes” (The Social Dilemma, 2020), veio como um alerta sobre o crescimento da presença de mídias sociais na sociedade.

Nos últimos anos, reportagens sobre questões de segurança e privacidade nas principais mídias sociais e plataformas, as mais utilizadas no mundo: Facebook, Google, Twitter, Linkedin, Pinterest e outros, falam sobre como as plataformas foram usadas para manipular, influenciar e obter ganhos sobre o uso de dados dos usuários.

Casos como o Brexit, Cambrige Analytica e a eleição americana são debatidos até hoje. Vários ex diretores, engenheiros e executivos foram chamados para falar sobre as ações realizadas para gerar o engajamento e manutenção dos usuários nas redes privadas. Inicialmente, as redes eram apenas voltadas a tentar exibir o melhor resultado para o usuário.

“O que eu quero que as pessoas saibam é que tudo o que estão fazendo online está sendo observado, está sendo monitorado, está sendo medido”, diz Jeff Seibert, ex-executivo do Twitter. “Cada ação que você realiza é cuidadosamente monitorada e registrada. Exatamente quais imagens você para e olha, por quanto tempo você olha para elas – ah sim, sério, por quanto tempo você olha para elas.”

A questão dos algorítmos e as relações com os usuários são ilustrados através de encenações com atores representando uma família e 3 algorítmos (em um cenário que lembra StarTrek), representando três aspectos que se destacam na manutenção das redes: o engajamento, o crescimento e o leilão de anúncios.

Algumas práticas demonstradas podem soar muito estranhas — sobre como resgatar um jovem para usar as redes, analisando o tempo que ele ficou olhando fotos das amigas — uma discussão entre as três facetas do algorítmo.

Os convidados reconhecem os benefícios da rede de alcance mundial, mas também apontam as mazelas criadas e os artifícios para obter milhões de dados — até o tempo que você apenas observa uma imagem ou post — gerando meios de manter os usuários mais tempo, para que sejam ofertados mais anúncios.

De todos os convidados, quem mais se destaca é Tristan Harris – presidente e co-fundador do Center for Humane Technology — ex-funcionário do Google, sempre buscou uma visão mais ética das ferramentas destas empresas. Há um TED Talk em que ele trata justamente disso:

Mas acredito que a fala mais importante de todas, para quem estuda a influência das redes sociais, veio de Jaron Lanier — autor do livro “Dez Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais” — para ele, as redes sociais são responsáveis pela mudança de hábitos, de forma lenta e sutil, onde sua existência gera vínculos tão fortes que você não pode abrir mão.

O tema está longe do fim e se ramifica em várias questões sociais que, no documentário, ficam restritas a questão da dependência de uso da redes como forma de uma exploração de visualizações. “Se o produto é gratuito, o produto, na verdade, é você”, frase reforçada no documentário.

Para uma discussão mais ampla, também são importantes obras para a discussão sobre o lado negativo das redes sociais como o “Privacidade Hackeada”, focada na polêmica dos dados da Cambrige Analytica e “Rede de Ódio”, ambos também acessíveis na Netflix.

Como professor de publicidade e marketing, acredito que o documentário acrescenta mais uma camada na discussão ética desta disciplinas, na busca por um relacionamento com o público de forma não ser uma dependência, e sim, algo saudável, transparente e consciente. Recomendo assistir o documentário e refletir se nossas ações são livres ou fruto de um novo contrato social, intermediado pelas redes sociais. Assista “O Dilema das Redes” e tire suas conclusões.

José Telmo

Publicitário, Professor de Marketing Digital, filósofo multimídia e nerd!

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